Fechamento do Café Senadinho gera comoção entre frequentadores

    “É verdade o que eu li no Diário hoje (ontem) de manhã? Vai fechar, mesmo?”. A fala do advogado Naim Budaibes, que mal pisara no Café Senadinho, dá o tom das conversas que tomaram conta da esquina das ruas Voluntários de São Paulo com Marechal Deodoro, em Rio Preto, na manhã desta quarta-feira (19/abril). O café, que tem mais de 50 anos – nem mesmo o dono do prédio onde o estabelecimento está localizado soube precisar há quantos anos ele existe – vai fechar as portas a partir do dia 28.

     O Café vai fechar porque o dono do imóvel – que operou a empresa durante algum tempo – vai abrir uma ótica no local.

     A comunidade que frequenta o café é composta por advogados, contadores, juízes, promotores, pessoas que moram na região central da cidade e até moradores de rua que passam por ali todos os dias em busca de um café, um pão de queijo ou até dois dedos de prosa. Não há quem saia insatisfeito. Mais que clientes, o café comandado por Myriã Pelegrini há 19 anos tem fregueses. Ou melhor: quase familiares.

     “Ficamos todos chocados. A Myriã é uma pessoa muito querida por todos, estamos com o coração apertado. Moro aqui ao lado e todos os dias venho aqui tomar um café e comer um pão de queijo. Quanto estou triste, venho aqui e a gente conversa, ri e se acolhe”, comenta Peta Fraxe Botosi, aposentada.

     “São muitos anos atendendo no mesmo local. Eles deixam de ser clientes e se tornam amigos, parceiros. Faço o que eu gosto e faço com prazer. Amo lidar com gente”, conta Myriã, que ainda tem uma unidade do Café Senadinho na rodoviária de Rio Preto, mas que está fechada por conta das reformas no prédio, que sofreu um incêndio em janeiro/2021.

     O fluxo de pessoas, sobretudo de advogados, no local é intenso. Há aqueles mais objetivos, calados, que entre uma audiência e outra se aproveitam do café e outros que aproveitam o tempo no local para por o assunto em dia e até conversar com promotores e juízes, claro, sem a formalidade imposta pelo ‘juridiquês’.

     “Aqui, todos os dias vemos histórias lindas, dramáticas, engraçadas. Isso aqui é uma democracia. Vem juiz, promotor, delegado, advogado. Semana passada mesmo tivemos um morador de rua que frequenta aqui que foi preso e que comentamos. No outro dia um amigo nosso foi lá e soltou ele. É assim que a coisa funciona aqui”, conta a advogada Paola Moretti, entre sorrisos. “É aqui que a gente vem desabafar e dar risada.”

     “Faz nove anos que venho aqui todos os dias. Aqui, a gente cria vínculos. A gente se vê todos os dias às 7h00 e eu brinco que sou do turno da manhã. Muita gente passa aqui. Comecei como cliente e hoje tenho uma amiga”, afirma a contadora Janaína Pelicer, que se tornou a contadora do Café.

     O futuro do local está destinado a ser uma ótica, mas o do café, ainda é incerto. Ofertas para que o Senadinho ocupe um novo espaço até existem, mas tudo ainda continua uma incógnita.

     “Encerrou, encerrou, não tem porque brigar. Tenho clientes para quem que entrego, juízes que não podem sair entre uma audiência e outra e que pedem lá dentro do fórum e vou entregar. Horário de entrega com os cartórios, festas de aniversário eu também faço. Hoje, se eu mudar para duas lojas mais para baixo, ou outro quarteirão aqui perto, eu sei que tenho clientela. Mas não sei se vamos continuar com a loja aqui no Centro ou ficamos só na rodoviária”, afirma Myriã.

     Enquanto isso, os clientes aproveitam os últimos dias do Café com prosa, aquele que esquenta a alma.

(Fonte: Diário da Região)