Liderança indígena acusa governo de ser “enfraquecido” e judiciário “egocêntrico”
A cerimônia de repatriação do manto Tupinambá, realizada na noite de quinta-feira (12/setembro), foi marcada por um clima de tensão e críticas entre lideranças indígenas e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Durante o evento, a anciã e liderança indígena Yakuy Tupinambá não poupou palavras ao se referir ao governo, ao Congresso Nacional e ao Judiciário. Em um discurso contundente, Yakuy Tupinambá ultrapassou o limite de três minutos protocolados para ler um manifesto em nome de 23 aldeias da Bahia. Ela classificou o governo de Lula como “enfraquecido”, o Congresso Nacional como “o pior da história da República”, e afirmou que o Judiciário é “egocêntrico e parcial”. A anciã também fez referência à mãe do presidente, Eurídice Ferreira de Mello, conhecida como dona Lindu, chamando Lula de “filho da dona Lindu”.
“Reiteramos nossa insatisfação com a postura colonizadora personificada pelo Estado brasileiro, através das autarquias representativas que, mais uma vez, dilaceram nossos direitos originários e, muito mais que isso, feriram profundamente o que mais prezamos —a nossa crença e a nossa fé”, leu Yakuy no manifesto.
Ela prosseguiu criticando o cenário político atual: “Nós somos violados há muito tempo, mas, ultimamente, o Estado e instituições patrimonialistas desencadearam uma retirada de direitos, com atentados contra a dignidade e a manutenção da vida. Temos hoje o pior Congresso da história, um Judiciário egocêntrico e parcial, e um governo enfraquecido, acorrentado às alianças e conchavos para se manter no poder. Não respeitam as leis nem os tratados e convenções internacionais. Vivemos uma democracia distorcida.”
Resposta
Em resposta, muito alterado, o presidente Lula rebateu as críticas e defendeu sua posição em relação às pautas indigenistas. “Se tivesse o poder que ela pensa que eu tenho, não estaria aqui comemorando um manto. Estaria comemorando a vida de milhões de indígenas que morreram neste país, escravizados pelo colonizador europeu”, afirmou o presidente, diretamente à liderança indígena.
O manto Tupinambá, artefato raro e sagrado para o povo indígena, foi repatriado do Museu Nacional da Dinamarca e devolvido ao Brasil após mais de três séculos. O item retornou ao Museu Nacional no dia 11/julho, simbolizando um importante marco na preservação e valorização da cultura Tupinambá.
(Fonte: Gazeta Brasil)