Após condenação de 8 anos por piadas, Leo Lins se defende: “Se rir virou crime, o silêncio virou regra”

        O humorista Leo Lins se pronunciou em um vídeo publicado em seu canal no YouTube na quinta-feira (05/junho), abordando a condenação imposta pela Justiça Federal na última terça-feira (03/junho). Leo Lins foi sentenciado a oito anos e três meses de prisão, em regime inicialmente fechado, sob a acusação de ter feito “discursos preconceituosos contra diversos grupos minoritários” em uma apresentação.

        Além da pena de prisão, o humorista terá que pagar uma multa equivalente a 1.170 salários mínimos (em valores da época da gravação) e uma indenização de R$ 303,6 mil por danos morais coletivos. A sentença ainda cabe recurso.

        Lins afirmou que falaria como Leonardo de Lima Borges Lins, e não como o humorista Leo Lins, explicando a distinção entre sua pessoa e sua ‘persona cômica’. “Talvez nem todos saibam, mas o humorista, no palco, interpreta uma ‘persona cômica’”, disse ele.

        “Antes de me pronunciar, eu quis ler toda a sentença da juíza que condenou um humorista, no caso eu, há mais de 8 anos de prisão e uma multa de quase 2 milhões. Esse vídeo não é de piada. Eu tô em casa com os meus gatos. Aqui a pessoa Leonardo de Lima Borges Lins e não o comediante Leo Lins. Uma persona cômica criada ao longo de anos que faz piadas ácidas, críticas e que sabe que nem todas as piadas são para todas as pessoas”, iniciou Leo Lins.

        Ele completou sua defesa: “Talvez nem todos saibam, mas o humorista num palco interpreta um personagem, uma persona cômica. Na construção do texto nós utilizamos figuras de linguagem, hipérbole, metáfora e ironia numa licença estética e, portanto, uma análise literal desse texto não se aplica na estrutura do cômico”.

        Lins ainda criticou o que chamou de “cegueira racional” nos julgamentos atuais. “Show de humor, apresentação de stand-up comedy, obra teatral, ficção, você está entrando em um teatro, está em um canal do humorista Leo Lins, mas parece que as pessoas perderam a capacidade de interpretar o óbvio. Estamos vivendo uma das maiores epidemias dos últimos tempos, a da cegueira racional. Os julgamentos são feitos puramente baseados em emoção e ninguém quer mais ouvir o próximo, quer no máximo convencê-lo da sua própria verdade. Isso pode trazer consequência para qualquer pessoa, mas no caso de um juiz, de uma juíza, pode trazer consequências gravíssimas”, relatou o comediante.

        Ele continuou, alertando para as consequências de sentenças como a sua: “Concordar com sentenças como essa é assinar um atestado que nós somos adultos infantiloides sem a menor capacidade de discernir o que é bom ou ruim para nós e precisamos de um estado falando do que você pode rir, o que você pode ouvir, o que você vai poder comer, o que você pode falar e até um dia o que você pode pensar”, citou Lins.

        O humorista agradeceu o apoio recebido. “Agradeço aos colegas, familiares, aos humoristas, juristas, jornalistas. Eu recebi milhões, milhares de mensagens. Confesso que foram foi acima da minha expectativa as pessoas que estão se posicionando a meu favor e claro, a vocês, as milhões de pessoas que acompanham o meu trabalho. Eu sempre falo que vocês são muito importantes para mim e me dão força para continuar seguindo em frente, frisou Lins”.

        Ele finalizou o longo monólogo com uma mensagem positiva: “Eu tenho fé que no fim vai dar tudo certo, até porque se rir virou crime, o silêncio virou regra”.

(Fonte: Gazeta Brasil)