Autor do feminicídio contra a médica de 28 anos muda a narrativa durante o Júri popular em Rio Preto

Continua em andamento o Tribunal do Juri de Davi Isaque Martins, autor do feminicídio da médica Thallita da Cruz Fernandes, assassinada aos 28 anos e colocada dentro de uma mala, em 18/agosto/2023, em Rio Preto.
O crime, que chocou o País, ocorreu no prédio em que a médica morava junto com o namorado, na Vila Imperial. O relacionamento tinha aproximadamente três anos e, segundo a investigação da Polícia Civil, a motivação do crime foi porque a vítima terminou o relacionamento por mensagem no celular.
Ainda de acordo com a investigação e familiares da Dra Tallita, Davi não trabalhava e se aproveitava das condições financeiras de Thallita.
“Minha filha acreditava que ele não tinha oportunidades na vida e queria ajudá-lo, mas ele sempre dizia que nada dava certo ou que o patrão não pagava o salário. Eu perguntei a ela se ela tinha um namorado ou se tinha um filho que não trabalhava. Ela começou a procurar emprego para ele, mas ele não se interessava. Ela começou a mudar a opinião dela, me senti culpada, na época”, disse Juliana da Cruz Fernandes, mãe de Thallita.
A juíza da Vara Criminal, Gláucia Vespoli, se emocionou ao falar com Juliana. “De mãe para mãe, não é culpa da senhora, nunca foi”, disse a magistrada.
O pai de Thalita, Hilton, também se emocionou ao falar da filha. Ele deu depoimento em uma chamada de vídeo. “Ela era uma pessoa boa. Era a minha confidente, eu tenho uma família maravilhosa, mas ela era o meu norte. Ela me dava muitos conselhos, falava para eu ser mais calmo, menos estressado no trânsito. Ela foi uma pessoa boa no mundo”, emocionou-se Hilton.
Ao ser questionado pela juíza Gláucia Vespoli, o delegado Alceu Lima de Oliveira Júnior, que na época coordenava a investigação e a terceira Delegacia de Homicídios da Deic, disse que não acredita que o réu demonstrou arrependimento.
“Ele se referia ao apartamento dela como ‘o meu apê’, quando ela viajou a São Paulo, ele levou amigos lá. Ele trocava mensagens chulas com homossexuais, ficava com outros homens e mulheres em troca de dinheiro. Também se relacionava com funcionárias do bar, mandava uma garota subir uma escada para dar beijos nele”, afirmou o delegado.
Ao entrar na tribuna, Davi Isaque quis manifestar-se. Pediu perdão a todos os presentes e aos familiares da vítima. Disse estar arrependido.
Na primeira fileira, a mãe e o padrasto, o irmão e a avó; e os demais familiares e amigos de Thallita. Do lado de fora do Fórum de Rio Preto, uma manifestação encheu a calçada com cartazes em protesto pela condenação do réu, contra o feminicídio e em memória de Thallita.
Em seu depoimento, Davi mudou a narrativa dada na Delegacia de Homicídios e foi inserida nos autos do inquérito. Na tribuna, ele criou uma história fantasiosa e afirmou ter levado, da vítima, uma facada nas costas e um soco no rosto.
Também atentou contra a honra de Thallita, afirmando que ela tinha relações levianas, que era muito ciumenta e que também fazia uso de entorpecentes. Falas que contradizem os relatos dos familiares e amigos, e de todas as pessoas que conheceram a médica.
Dra Thallita atuava na saúde pública de Bady Bassitt e marcou a vida de vários pacientes, que lembram dela como uma das melhores médicas plantonistas da cidade, localizada na região de Rio Preto.
“Na minha opinião, o fato dela ser plantonista era conveniente para ele, porque ele podia viver da forma que ele vivia à vontade”, disse o delegado Alceu Lima Jr.
Nos autos do inquérito investigativo do caso, não há exames periciais que mostram que Davi foi lesionado com golpes de faca.
O representante do Ministério Público, Dr. Horival Marques Oliveira Júnior, disse em defesa da vítima, que Davi não teve piedade alguma quando assassinou Thallita. Ele também falou sobre o drama dos crimes contra as mulheres e definiu o feminicídio no Brasil como uma “desgraça”. O promotor citou o caso de Daniela Peres, morta com 18 golpes de punhal pelo ator Guilherme de Pádua, em dezembro/1992. O homicídio qualificado não era reconhecido como crime hediondo, o feminicídio, tampouco falado. Ele foi condenado, na época, a 19 anos de prisão, mas cumpriu apenas seis anos. A medida revoltou a população.
“O Brasil é ou não é o país da impunidade?”, questionou o promotor aos jurados.
“Ela fazia terapia, ele levava homens e mulheres no apartamento quando ela viajava, ele usava drogas no apartamento dela. Os amigos dela achavam ele um parasita na vida dela. E ele era mesmo”, afirmou o promotor.
(Fonte: Gazeta de Rio Preto/fotos: G1)
Atualizado em 22/abril/2025 – 20h10
Acusado de matar Tallita é condenado a 31,6 anos de prisão
Após cinco horas de duração, terminou na noite desta terça-feira (22/abril), no Fórum Criminal de São José do Rio Preto, o julgamento de Davi Isaque Martins da Silva, acusado de matar brutalmente a médica Tallita Cruz Fernandes em agosto/2023. O réu foi condenado a pena máxima, de 30 anos, por homicídio e 1 ano e seis meses por tentativa de ocultação de cadáver. A pena deve ser cumprida em regime fechado, sem recurso.
O crime, que chocou a cidade e o país, ganhou ainda mais notoriedade por sua crueldade e pelas circunstâncias que o cercam: o acusado não teria aceitado o fim do relacionamento e, movido por ciúmes e raiva, desferiu golpes de faca contra a ex-companheira, tentando depois ocultar o corpo em uma mala.
O júri popular, inicialmente marcado para as 13h30, teve início com quase uma hora de atraso, às 14h20. Do lado de fora do fórum, uma grande manifestação popular tomou conta da entrada, exigindo justiça por Dra Tallita e clamando por penas mais severas contra feminicídios.
A sessão teve início com o depoimento do delegado Alceu Oliveira Junior, responsável pela condução das investigações. Em seguida, foi ouvida a mãe da vítima, visivelmente abalada, que fez um relato emocionado sobre a vida e o sofrimento da filha.
O pai de Dra Tallita também prestou depoimento, por videoconferência. Antes da fala do promotor, o réu foi interrogado. Em sua defesa, Davi afirmou estar arrependido e alegou ter agido em legítima defesa, dizendo que teria sido atacado com uma facada nas costas por Tallita. No entanto, o exame de corpo de delito realizado após sua prisão, menos de 48 horas depois do crime, apontou apenas um corte superficial em um dos dedos.
A Promotoria, representada por Horival Marques de Freitas Junior, já teve uma hora e meia para apresentar seus argumentos. O promotor sustentou que o crime foi cometido por motivo torpe, de forma cruel e com impossibilidade de defesa da vítima. Ele pediu a condenação do réu pela pena máxima, enquadrando o assassinato como homicídio qualificado e feminicídio, além de tentativa de ocultação de cadáver.
Durante os depoimentos, detalhes macabros vieram à tona. A mãe de Tallita relatou que Davi, mesmo após o crime, teria usado a conta da filha na Netflix para assistir a um documentário sobre Elize Matsunaga — mulher condenada por matar e esquartejar o marido, escondendo partes do corpo em uma mala. O promotor afirmou que Davi teria assistido ao documentário dentro do apartamento, ainda com o corpo de Tallita no local, antes de tentar esconder o cadáver da médica da mesma forma.
A advogada de defesa Karen Requena, nomeada pela Defensoria Pública há apenas 15 dias, assumiu o caso após a renúncia do advogado anterior, que abandonou a defesa faltando menos de um mês para o julgamento. Sua missão foi tentar convencer os jurados de que houve excesso de legítima defesa ou alguma atenuante para evitar a condenação máxima solicitada pela Promotoria.
A sociedade, atenta e mobilizada, aguarda uma decisão que represente justiça para Tallita e para tantas outras vítimas de feminicídio no país.
(Fonte: Jornal Dhoje/Danielle Manzanni)