Jovem espancado por policiais diz que voltava de entrevista de emprego quando foi abordado: ‘Agiram com ignorância e violência’

        O jovem negro de 26 anos espancado com chutes e ameaçado de morte por um tenente, de 36 anos, e um sargento, de 37, disse que voltava de uma entrevista de emprego quando foi abordado pelos policiais militares. A agressão ocorreu na tarde de terça-feira (07/maio), no bairro Jardim Cassetari, em José Bonifácio (SP), e foi registrada em vídeo .

        Em nota, a PM ressaltou que as imagens sugerem um comportamento inaceitável e que, por isso, instaurou um inquérito policial para apuração.   Os dois policiais foram afastados das funções . Ao g1, o jovem disse que estava com os papéis da empresa no momento da abordagem, o que comprova que ele voltava de uma reunião.

        Contudo, segundo ele, os policiais se negaram a ver o documento por suspeitarem que ele seria um dos envolvidos em um roubo a uma propriedade rural por possuir características físicas semelhantes às de um dos ladrões. Então, deram início às agressões.

        Imagens gravadas por uma moradora mostram o jovem, já contido, desarmado e imobilizado por um dos policiais contra uma parede, em frente à casa de um comerciante. Durante a abordagem, o policial ameaça o homem: “você não morreu de dó, não te matei de dó”.

        Na sequência, é possível ver que o rapaz pede para que o policial o solte. Irritado, o PM responde: “eu quebro essa cadeira na sua cabeça agora”. Depois, outro policial sai de uma viatura e chuta o homem, que cai ao chão.

        O rapaz se levanta e reclama de dor, mas o policial o agarra pelo pescoço, o derruba no chão novamente e continua chutando o jovem. “Eles agiram desde o começo com ignorância e violência. Estou cheio de dor, todo ferido, com a boca machucada. Não consigo nem comer. Estou com medo também porque eles me ameaçavam a todo momento”, lamenta o jovem.

        O homem foi levado ao pronto-socorro pelos policiais, onde passou por atendimento e foi liberado.

       Ao delegado responsável pela investigação, Marco Antônio de Oliveira, ele negou que tenha roubado a propriedade rural. O jovem foi ouvido e liberado. A ocorrência foi registrada como resistência, abuso de autoridade e lesão corporal. Ninguém foi preso.

       A Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar a conduta dos policiais, bem como o roubo à propriedade rural, crime que teria ocorrido na manhã de terça-feira (07/maio), horas antes da abordagem da PM.

        De acordo com o delegado, na ocasião do assalto, um trabalhador do sítio, de 51 anos, foi rendido por dois homens encapuzados, sendo que um deles estava armado. A vítima foi trancada em um dos quartos para que os bandidos cometessem o crime.

        Dois televisores e uma peça de computador foram roubados. Depois, os criminosos fugiram. Ainda conforme o delegado, há a suspeita de que havia um terceiro comparsa, dentro de um carro, aguardando os ladrões para auxiliar na fuga.

        Segundo o boletim de ocorrência, o tenente e o sargento envolvidos na agressão foram acionados para atender à denúncia do crime. No local, eles tiveram acesso às câmeras de monitoramento.

        Por volta das 13h00, em patrulhamento na Avenida Antônio Nhoata, a dupla avistou o jovem agredido, que, segundo os policiais, tem características físicas semelhantes às de um dos ladrões.

        Ainda conforme o BO, quando questionado sobre o crime, ele correu em direção a uma área de mata. Na sequência, os policiais iniciaram a perseguição. Ao alcançarem o jovem, ele foi levado para a frente da residência do comerciante, onde foi agredido.

        “O tenente e o sargento me relataram que suspeitaram do jovem e fizeram a abordagem. Ele demonstrou resistência e fugiu por duas vezes. Durante a terceira abordagem, que ocorreu nesse estabelecimento comercial onde foi feita a imagem, houve a luta corporal”, finaliza.

        De acordo com o delegado, os policiais e o jovem já foram ouvidos. O rapaz agredido possui uma passagem criminal por porte de entorpecente para consumo pessoal. Ele também passou por exame de corpo de delito no IML (Instituto Médico Legal).

(Fonte: G1 São José do Rio Preto e Araçatuba)