Mulher em viagem por SP diz que viu carro do marido ser tomado pela água no Sul durante ligação: ‘Pânico por videochamada’
Nascida em São José do Rio Preto (SP), Gislaine Vargas visitava parentes quando ficou sabendo, pelo telefone, que a casa foi inundada em Canoas (RS). Marido dela contava sobre situação quando foi surpreendido pela água.
Pessoas que nasceram ou que moram em São Paulo e têm parentes no Sul vivem dias de medo e desespero.
As fortes chuvas que atingem a região sul do país deixam vítimas por todas as partes do Brasil. É o caso de Gislaine Viana Valarinho Vargas, de 39 anos, nascida em São José do Rio Preto (SP). Ela mora em Canoas (RS) há cerca de dois anos, junto com o marido e a filha de oito meses, e conta que ficou sabendo que a casa foi inundada durante uma ligação ao marido.
Ela conta que o marido, Jeferson Vagas, de 46 anos, estava no imóvel e recebeu o comunicado das autoridades de segurança pedindo para que saísse da área. Gislaine diz que, logo após ser avisado, ele colocou alguns móveis e aparelhos eletrônicos em cima da casa e foi para o mercado, mas acabou sendo surpreendido pela tempestade. Assustado, Jeferson fez uma chamada de vídeo com a esposa, que entrou em desespero ao saber da situação.
“Eu vivenciei momentos de pânico por videochamada. Meu marido saiu de casa de carro e, ao virar uma rua, o nosso carro, mesmo alto, foi invadido pela chuva, desligou e parou em meio à água. Ele não conseguia abrir a porta e nem o teto solar”, conta.
“Começamos a clamar a Jesus por misericórdia. Eu desliguei a ligação para pedir ajuda e pedi para ele quebrar o vidro. Ele estava em meio à chuva e tudo escuro”, completa Gislaine, emocionada.
Jeferson conseguiu socorro com um veículo de grande porte que passava pelo local e o resgatou.
A rio-pretense, que mora no estado gaúcho há cinco anos, sempre viaja à cidade natal na semana do Dia das Mães, mas, desta vez, resolveu antecipar a viagem por conta do aniversário de oito anos da sobrinha dela. Gislaine reconhece que nunca imaginou que viveria momentos de pânico.
“Eu estou na casa da minha irmã, sem previsão de data de retorno. O aeroporto está fechado por 30 dias. Mas eu não sei para onde ir, o que vamos conseguir recuperar, se é que vamos conseguir recuperar alguma coisa, porque são muitos dias com tudo debaixo d’água”. Ela conta que pretende ficar em Rio Preto até que as questões climáticas melhorem e diz que é muito triste ver pessoas precisando de resgate, água e comida na cidade onde mora.
“Pessoal precisando de gasolina, óleo para os barcos, lanchas e motos aquáticas para salvar as vítimas. Consegui roupa para bebê e para mim, agora estou pedindo para o meu marido. Fralda, lenço umedecido. Estamos pedindo ajuda porque, como muitas famílias, vamos ter que começar do zero, só que agora não temos nem para onde ir”, finaliza Gislaine.
Dias de angústia
A psicóloga Julia Gomes, de 26 anos, mora em Rio Preto há cerca de dois anos, junto com os pais. Natural de Eldorado do Sul (RS), ela viveu momentos de angústia ao descobrir que a cidade havia sido atingida pelas fortes chuvas. Diversos familiares de Julia foram afetados e perderam praticamente tudo o que tinham.
“Eldorado do Sul, infelizmente, sempre teve grandes problemas com enchentes, mas seria difícil imaginar que tomaria tamanha proporção. Nossos familiares nos comunicaram que, diferente das outras vezes, a água estava chegando às suas casas, considerando que moram em uma região mais alta, que ainda não havia sido afetada”, comenta Julia.
Em questão de poucas horas, precisaram mudar para a casa de um parente de dois andares, pois já estavam debaixo da água. O contato por telefone foi rápido e desesperador”, relata a psicóloga. Ela conta que, ao receber a notícia pelos veículos de comunicação, tentou contato com os parentes que ainda moram no sul do país.
“Visto que a luz e a água da cidade acabaram, a comunicação ficou falha. Não havia maneira de carregar o celular, e o sinal era fraco. Conseguíamos contato pouquíssimas vezes por dia, nossos familiares deixavam o telefone desligado e comunicavam uma pessoa da família quando era possível, e essa repassava as informações”, explica.
Julia se sente mais aliviada ao saber que os parentes foram resgatados e estão em segurança, mas diz que o município foi devastado. Ela reconhece que o apoio da população com doação, oração e acolhimento faz toda a diferença neste momento.
“Faz três dias que meus familiares foram resgatados e estão seguros. Extremamente abalados com todo o ocorrido, visto que, enquanto estavam ilhados, além de não ter notícias externas, passaram por momentos de extrema angústia e medo. Muitas famílias precisam ser salvas, a cidade está embaixo da água e não tem previsão de melhora”, finaliza Julia.
Solidariedade
Maria Paula Laguna, de 26 anos, nascida em São José do Rio Preto, mudou-se para Caxias do Sul (RS) há cerca de cinco meses. A jornalista foi acompanhada do marido João Pedro de Giuli, de 25 anos.
Nos dias de maior intensidade da chuva no sul, Maria Paula estava em Rio Preto. Ela retornou para Caxias do Sul na tarde de terça-feira (07/maio) e confessa que, apesar de a cidade não ter sido tão atingida pela tempestade quanto outras, é visível que a população está aflita com a tragédia no estado.
“Aqui em Caxias, os bairros mais afetados são mais distantes. Então, a cidade está sendo um ponto de apoio para as cidades vizinhas, para Porto Alegre, para os outros municípios que foram muito afetados.”
Ela conta que logo que chegou no aeroporto, “já vi vários aviões de pequeno porte, helicóptero, já tinha um carro do Exército com militares ali para auxiliar nessa questão das doações, então assusta um pouco. Realmente as coisas aqui, graças a Deus, estão mais tranquilas, mas estão acontecendo”.
Apesar de não ter tido danos materiais, a jornalista usou as redes sociais para gravar um vídeo no qual pediu ajuda para os seguidores. Ela diz na publicação que conhece algumas das vítimas dos temporais. “A gente resolveu se mobilizar, pedir ajuda nas redes sociais, porque é uma forma de chegar até mais pessoas. Muitas pessoas conseguem ajudar para dar esse auxílio mais rápido, sabe, porque agora as vítimas não têm nada, então tudo que vem é bem-vindo. Por exemplo, as pessoas de longe estão mandando roupas, mas essas roupas ainda vão demorar para chegar e a gente não sabe se as pessoas que nós conhecemos vão receber essas roupas. Então, a gente está recebendo dinheiro e já está ajudando várias famílias, mas também estamos pegando outras doações para as instituições aqui de Caxias que estão fazendo as doações, porque é tudo muito crítico”, finaliza.
A jornalista se mudou para Caxias do Sul em dezembro/2023, logo depois de se casar. Atualmente, João Pedro é jogador de futebol na cidade.
(Fonte: G1 São José do Rio Preto e Araçatuba)