Primo da cantora de Olímpia que morreu na queda do voo Rio-Paris diz que tribunal foi parcial ao absolver Airbus e Air France

    Decisão da Justiça da França absolveu, na segunda-feira (17/abril), as duas empresas pela morte de 228 pessoas. Advogado e primo de Juliana de Aquino discorda da sentença. Família da vítima é de Olímpia (SP).

     A absolvição da Air France e da Airbus não surpreendeu a família da cantora Juliana de Aquino, de 29 anos, vítima da queda do voo AF 447 Rio-Paris ocorrido em junho/2009, matando 228 pessoas.

     Para a reportagem do g1, o primo de Juliana, o advogado Luiz Carlos Roberto (foto), 59 anos, disse que apesar de manter a esperança de que houvesse a condenação das empresas pela variedade de provas, a família imaginava que a Justiça francesa decidisse pela absolvição.

     Como profissional que atua na área, Luiz Carlos destacou que o próprio Ministério Público da França opinou pela absolvição, o que, de certo modo, influenciou na decisão final da Justiça.

     “Discordo da decisão, haja vista que tanto a Air France e a Airbus assumiram a negligência e imperícia, comprovados nos autos do processo. Houve parcialidade e injustiça nessa decisão dos jurados, já que as provas são maduras o suficiente para reconhecer a tipicidade do homicídio culposo”, disse o primo de Juliana, cuja família é natural de Olímpia (SP).

     Segundo a imprensa francesa, não cabe recurso à decisão emitida na segunda-feira (17/abril). Mesmo se a Justiça aceitasse mais recursos, Luiz Carlos afirmou que a família não recorreria à decisão, por considerar que não há nada que traga Juliana de volta à vida.

Carreira profissional

     Nascida em Brasília (DF), Juliana iniciou a carreira profissional aos quatro anos e estudou piano no Instituto de Música do Distrito Federal. Na Europa, a cantora se destacava nas apresentações e faria um teste para o Circo de Solei. Aos 15 anos, Juliana estreou a carreira solo e, em 2001, lançou o seu primeiro CD.

     Vegetariana e apaixonada por filmes, a cantora teve oportunidade de atuar na Alemanha, na produção de “O Rei Leão”, entre 2003 e 2007.

     Apegada à família, a Juliana sonhava em ter filhos, mas priorizava solidificar a carreira. Antes do acidente, a cantora trabalhava em Stuttgart, na Alemanha, no musical Wicked.

     Segundo Luiz Carlos, Juliana voltou ao Brasil para visitar a família e morreu enquanto retornava a Paris. Por desejar que o sofrimento terminasse, o advogado destacou que, na época do acidente, os pais da cantora autorizaram que as buscas pelo corpo fossem encerradas.

Absolvição

     A Airbus e Air France eram julgadas por homicídio involuntário. O tribunal de Paris responsável pelo caso absolveu as duas empresas por considerar que, embora tenham cometido “falhas”, não foi possível demonstrar “nenhuma relação de causalidade” segura com o acidente. Ou seja, a Justiça disse entender que nenhum problema técnico do avião provocou a queda da aeronave – que caiu sobre o Oceano Atlântico em 1º/junho/2009 após passar por uma turbulência severa.

     Desde então, comitês de investigação tentam achar o motivo da queda. Em 2011, investigadores franceses, com base em uma busca com submarinos, afirmaram que os pilotos responderam “com falha” a um problema envolvendo sensores de velocidade congelados.

     Por conta disso, a aeronave entrou em queda livre e não conseguiu responder aos alertas de estol – quando o avião perde a capacidade de voar.

     Ao anunciar o veredito, o juiz do tribunal criminal de Paris listou vários atos de negligência de ambas as empresas, mas disse que eles ficaram “aquém da certeza necessária para estabelecer responsabilidade firme pelo pior desastre aéreo”.

     Ainda assim, a sentença destacou o debate que se gerou após a queda da aeronave sobre problemas técnicos tanto da Airbus quanto da Air France com os sistemas que geram as leituras de velocidade.

     Este foi o primeiro julgamento da França por homicídio involuntário corporativo, para o qual a multa máxima é de 225 mil euros (cerca de R$ 1,21 milhão).

     Ambas as empresas se declararam inocentes.

Posição das empresas

     Após o julgamento, a Air France disse, em nota, se solidarizar com os parentes das vítimas.

     “A empresa sempre lembrará a memória das vítimas deste terrível acidente e expressa sua mais profunda compaixão a todos os seus entes queridos“, disse o comunicado.

     A Airbus também manifestou solidariedade, mas, em nota, chamou a decisão de “congruente”.

(Fonte: G1 São José do Rio Preto e Araçatuba)