Projeto em escolas de Rio Preto identificou 26 vítimas de abuso em um ano
Lançado em Rio Preto em outubro/2022, o projeto Eu Tenho Voz, criado para colher denúncias na rede de ensino de exploração sexual infantil, já registrou 26 relatos. Iniciado em apenas duas escolas, a proposta deve ser expandida para mais instituições de ensino a partir de junho deste ano. Todos os casos foram encaminhados aos conselhos tutelares e secretarias de Saúde e Assistência Social.
Nesta quinta-feira (18/maio), é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes. Em Rio Preto, os números de denúncias de estupro de vulnerável cresceram nos últimos anos. No primeiro trimestre de 2023, foram 51 casos, contra 40 no mesmo período do ano passado.
O projeto Eu Tenho Voz usa a peça teatral “Marcas da Infância”, que traz a temática sobre exploração sexual e leva os estudantes a revelarem se foram ou são vítimas. Todos os relatos são mantidos em sigilo, acompanhados por profissionais, para que posteriormente sejam adotadas as medidas de proteção dos alunos.
Todos os relatos receberam acompanhamento da Vara da Infância e da Juventude, mas nenhum resultou ainda em sentença contra o suspeito de ser abusador.
Segundo a psicóloga judiciária da Vara da Infância e da Juventude de Rio Preto, Railda Ferreira Galbiati, o programa tem como objetivo fazer a prevenção contra abuso sexual, físico e psicológico contra crianças e adolescentes. “Para receber as denúncias, fizemos a capacitação de professores e funcionários de escola para saberem observar e reconhecer os sinais ou sintomas de violência e assim ajudar a criar um fluxo integrado para atendimento às vítimas”, explica a psicóloga.
Para captação destas denúncias, foram capacitados 80 educadores de duas escolas públicas estaduais do município, no “Curso de capacitação básica para prevenção e combate ao abuso sexual de crianças e adolescentes”.
Com foco em ampliar os profissionais aptos a captar denúncias, em 2023 foi realizado treinamento do Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência), da Polícia Militar.
Articulador da implantação do projeto Eu Tenho Voz em Rio Preto, o juiz Evandro Pelarin acha positivo o resultado do trabalho já realizado. “É uma iniciativa que nos foi disponibilizada pelo Instituto Paulista de Magistrados para acolhimento de crianças e adolescentes vítimas de violência. Depois da apresentação da peça teatral, passamos a ouvir relatos espontâneos das crianças e adolescentes para depois aferirmos quais são as medidas pertinentes”, diz o magistrado.
Ação na pista
Para relembrar o dia de combate ao abuso infantil, a equipe da base da PRF (Polícia Rodoviária Federal) de Rio Preto esteve fazendo uma campanha de conscientização, nesta quinta-feira (18/maio), por meio de abordagens feitas às margens da rodovia BR-153.
“Das 10h00 às 12h00, vamos fazer essa abordagem em parceria com a concessionária Triunfo e conselheiros tutelares para fazer a conscientização dos motoristas”, diz o inspetor da PRF, Flávio Catarucci.
Exploração via internet
Há anos à frente de uma das maiores investigações nacionais contra pornografia infantil, o delegado Alexandre Arid, da seccional de Rio Preto, lamenta ver que, mesmo após cem prisões realizadas, cresce na internet a exploração sexual de crianças e adolescentes.
“Fazemos um forte combate à exploração sexual de crianças e adolescentes, por meio da investigação pela internet, mas o que temos percebido, ao longo de 10 anos, é que infelizmente tem crescido a pornografia infantil no mundo, inclusive na região de Rio Preto”, diz o delegado.
A maioria dos presos na região de Rio Preto é flagrada com armazenamento de pornografia infantil. O perfil predominante é de homem, inclusive entre eles alguns casados, que consome fotos e vídeos sem conhecimento dos familiares.
“O que temos focado é em pegar quem produz este tipo de conteúdo para divulgar pela internet, inclusive quem vende imagens produzidas por eles”, diz o delegado. (MAS)
Violência contra crianças
Registro na polícia de estupro de vulnerável em Rio Preto
2018: 35
2019: 32
2020: 27
2021: 27
2022: 40
2023 (até março): 51
Notificações na Secretaria de Saúde
2018: 97
2019: 105
2020: 114
2021: 124
2022: 146
2023 (até fevereiro): 25
Total: 839
Vítimas, local e agressores
Sexo
Masculino: 169
Feminino: 670
Local da ocorrência
Residência: 661
Habitação coletiva: 5
Escola: 44
Local de prática esportiva: 2
Bar ou similar: 7
Via pública: 28
Comércio/serviços: 7
Outros: 85
Principais agressores
Pai: 160
Mãe: 26
Padrasto: 130
Madrasta: 2
Irmão: 32
Amigo/conhecido: 146
Desconhecido: 71
Cuidador: 10
Pessoa com relação institucional: 13
Outros: 249
Sinais de preocupação
1- Mudanças de comportamento
Alterações de humor entre retraimento e extroversão, agressividade repentina, vergonha excessiva, medo ou pânico. Em algumas situações a mudança de comportamento é em relação a uma pessoa ou a uma atividade em específico.
2- Proximidades excessivas
A violência costuma ser praticada por pessoas da família ou próximas da família na maioria dos casos. O abusador muitas vezes manipula emocionalmente a criança, que não percebe estar sendo vítima.
3- Comportamentos infantis repentinos
Se o jovem voltar a ter comportamentos infantis, os quais já abandonou anteriormente, é um indicativo de que algo pode estar errado.
4- Silêncio predominante
Para manter a vítima em silêncio, o abusador costuma fazer ameaças de violência física e mental, além de chantagens. É essencial explicar à criança que nenhum adulto ou criança mais velha deve manter segredos com ela que não possam ser compartilhados com pessoas de confiança, como o pai e a mãe, por exemplo.
5- Mudanças de hábito súbitas
Uma criança vítima de violência, abuso ou exploração também apresenta alterações de hábito repentinas. Sono, falta de concentração, aparência descuidada, entre outros, são indicativos de que algo está errado.
6- Comportamentos sexuais
Crianças que apresentam um interesse por questões sexuais ou que façam brincadeiras de cunho sexual e usam palavras ou desenhos que se referem às partes íntimas podem estar indicando uma situação de abuso.
7- Traumatismos físicos
Os vestígios mais óbvios de violência sexual em menores de idade são questões físicas como marcas de agressão, doenças sexualmente transmissíveis e gravidez.
8- Enfermidades psicossomáticas
São problemas de saúde, sem aparente causa clínica, como dor de cabeça, erupções na pele, vômitos e dificuldades digestivas, que na realidade têm fundo psicológico e emocional.
9- Negligência
Muitas vezes, o abuso sexual vem acompanhado de outros tipos de maus-tratos que a vítima sofre em casa, como a negligência.
10- Frequência escolar
Queda injustificada na frequência escolar ou baixo rendimento causado por dificuldade de concentração e aprendizagem. Outro ponto a estar atento é a pouca participação em atividades escolares e a tendência de isolamento social.
(Fonte: Prefeitura e site www.childhood.org.br/ Diário da Região)