Relatório cita Brasil e aponta crime organizado e polarização política como ameaças na América Latina
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Um relatório publicado nesta quinta-feira (06/fevereiro) pelo Centro Adam Smith para a Liberdade Econômica da Universidade Internacional da Flórida (FIU) analisa os principais riscos políticos, econômicos, sociais e internacionais em seis países da América Latina: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador e México.
O estudo, intitulado “Latin America Country Risk Index and Analysis”, revela que os especialistas consideram os riscos sociais como a principal área de preocupação na região, seguidos pelos riscos políticos e econômicos. Os riscos internacionais, embora presentes, foram considerados os menos preocupantes.
Baseado em três estudos realizados ao longo de 2024, o relatório destaca que o crime organizado e os altos níveis de criminalidade são as principais ameaças sociais na região. Além disso, a polarização política e a desconfiança nas instituições emergem como os principais riscos políticos, enquanto a alta inflação e o desemprego são as maiores preocupações econômicas.
Para o estudo, foi utilizado o método Delphi para coletar ideias e opiniões de um grupo de especialistas de diversos setores, como acadêmico, empresarial, sociedade civil, governamental e jornalístico. Todas as identidades e respostas exatas foram anonimizadas, um enfoque que permitiu que os informantes-chave – muitos dos quais ocupavam ou ocupam postos influentes em seus respectivos campos – expressassem abertamente suas opiniões sobre os temas de investigação.
Carlos Díaz-Rosillo, diretor fundador do Centro Adam Smith para a Liberdade Econômica, destacou a importância de entender os riscos que os países latino-americanos enfrentam para tomar decisões empresariais informadas: “Este estudo permite aos investidores potenciais tomar decisões bem informadas que equilibrem a cautela com as oportunidades, entendendo tanto os desafios quanto as possibilidades que a região oferece”, explicou na apresentação do relatório.
Erich de la Fuente, pesquisador principal do Centro, ressaltou a necessidade de uma compreensão profunda das tendências que marcam o rumo da região: “Precisamos compreender profundamente as tendências e os desafios que configuram nosso mundo se quisermos navegá-los e abordá-los com eficácia”, escreveu no prólogo.
Riscos Sociais: Crime Organizado e Segurança
Os especialistas consultados no relatório identificaram o crime organizado como a principal ameaça social na região. Segundo o estudo, “o sucesso das empresas criminosas em se infiltrar nos governos e nas estruturas políticas representa uma ameaça para a segurança nacional e a democracia”. Essa preocupação é agravada pela percepção de que os governos não estão abordando adequadamente esse problema, o que levou a um aumento das taxas de criminalidade e a um agravamento da segurança em todos os países, exceto em El Salvador, onde as ações estritas do governo reduziram a violência.
Um especialista citado no relatório afirmou: “O crime organizado se tornou uma atividade econômica e um meio de controle territorial na Colômbia. Tem tomado a maioria dos setores da sociedade”.
No México, os especialistas expressaram preocupação com o controle que os grupos criminosos exercem sobre várias regiões e sua influência nas eleições estaduais. “O governo enfrenta uma pressão crescente da cidadania para mostrar resultados na redução da violência e do narcotráfico”, acrescentou o relatório.
El Salvador, entretanto, é uma exceção nesta categoria. O relatório destaca que “o governo é visto como mais preparado para combater o crime organizado”, o que levou a uma notável redução nos níveis de criminalidade. Apesar disso, o crime organizado continua sendo uma preocupação significativa no país.
Riscos Políticos: Polarização e Desconfiança
A polarização foi identificada como o principal risco político na região. Segundo o relatório, “o discurso altamente carregado das figuras políticas tem dificultado o compromisso e a tomada de decisões, o que tem dificultado a implementação de reformas políticas e econômicas importantes”. Essa polarização levou a uma diminuição da fé pública na capacidade da democracia de abordar os problemas cotidianos.
O relatório também aponta que a desconfiança nos políticos, nos partidos políticos e nas instituições governamentais caiu drasticamente. “A corrupção prevalente exacerbou esses fatores, aumentando os níveis de insatisfação com a governança democrática”, indica o estudo.
Em países como El Salvador e México, os especialistas percebem que o sistema judicial e as instituições estatais estão perdendo independência, o que aumenta os níveis de risco político.
Um especialista argentino citado no relatório comentou: “Qualquer instituição que administra os recursos de outras pessoas frequentemente experimenta atos de corrupção”. Esta falta de transparência e a percepção de corrupção têm erodido a confiança nas instituições democráticas em toda a região.
Riscos Econômicos: Inflação e Desemprego
No âmbito econômico, os especialistas identificaram a alta inflação e o desemprego como os riscos mais críticos. O relatório adverte que esses problemas poderiam exacerbar o mal-estar social e fortalecer as redes criminosas, que preenchem o vazio de emprego para muitos desempregados. “A alta inflação e o desemprego não apenas afetam o poder de compra e o gasto dos consumidores, mas também podem ampliar a desigualdade socioeconômica”, destaca o estudo.
Na Argentina, por exemplo, a inflação acumulada em 2024 atingiu 117,80%, embora tenha mostrado uma tendência de queda nos últimos meses. Um executivo empresarial citado no relatório expressou: “Muitos ainda estão preocupados com a falta de estabilidade monetária e as restrições cambiais”. Apesar desses desafios, os especialistas na Argentina são otimistas quanto à recuperação econômica a médio e longo prazo, especialmente devido às políticas do presidente Javier Milei.
No México, os especialistas expressaram preocupação com a gestão das finanças públicas, particularmente em relação à empresa estatal de petróleo, PEMEX, e à companhia elétrica estatal, CFE. “PEMEX é um grande fardo para o estado porque está à beira da falência, mal administrada e subsidiada com fundos públicos”, disse um representante de uma organização da sociedade civil.
Riscos Internacionais: Influência da China e Mudanças Climáticas
Os riscos internacionais foram considerados os menos preocupantes em comparação com as outras categorias. No entanto, os especialistas expressaram preocupação com a influência da China em setores econômicos chave e como as tensões entre Estados Unidos e China poderiam afetar as economias locais. “A China investiu bilhões de dólares em infraestrutura, energia e matérias-primas na região, o que aumentou a dependência econômica desses países”, indica o relatório.
Além disso, a mudança climática surgiu como um risco internacional notável. Os especialistas no Brasil, em particular, expressaram uma maior preocupação devido aos recentes desastres ambientais, como as inundações no estado do Rio Grande do Sul e o desmatamento na bacia do Amazonas. “A mudança climática pode levar a inundações, secas e outros desastres naturais, resultando em perdas de colheitas, falhas no transporte e deslocamento da população”, adverte o relatório.
Recomendações de Investimento
Apesar dos riscos identificados, os especialistas em todos os países, exceto El Salvador, perceberam níveis de risco de investimento mais baixos do que suas avaliações gerais de risco país. Os especialistas na Argentina e Colômbia foram os mais entusiastas em recomendar investimentos em seus países, enquanto os de El Salvador e México foram os mais céticos.
Na Argentina, 67% dos especialistas recomendaram investir, citando o otimismo sobre as políticas do presidente Milei. “Embora os níveis de pobreza e os preços dos alimentos tenham aumentado, muitos especialistas acreditam que esses são males necessários para se recuperar de anos de má gestão fiscal”, destaca o relatório.
Em contraste, em El Salvador, apenas 14% dos especialistas recomendaram investir, e quase metade (46%) aconselhou contra. “Os especialistas em El Salvador perceberam alguns dos níveis mais altos de risco político e econômico no estudo, o que diminuiu seu entusiasmo por recomendar investimentos”, indica o relatório.
O relatório conclui que, apesar dos desafios, os países da América Latina continuam oferecendo um potencial de crescimento significativo. No entanto, os investidores devem pesar esse potencial contra os riscos políticos e sociais que podem afetar sua estabilidade a longo prazo. “É essencial que as empresas que buscam investir na região avaliem suas próprias tolerâncias ao risco e desenvolvam estratégias abrangentes adaptadas aos riscos únicos de cada país”, ressalta o relatório.
(Fonte: Gazeta Brasil)