Siamesas recebem alta após cirurgia rara de separação de crânio

        Talita Cestari, mãe das gêmeas siamesas Allana e Mariah, comemorou a alta das meninas após três meses da cirurgia de separação realizada no Hospital das Clínicas, em Ribeirão Preto (SP). As irmãs, que nasceram unidas pela cabeça, passaram por quatro procedimentos até a separação total.  
        “Voltando para casa, cada uma em um colo”, relata a mãe, feliz pelo sucesso da cirurgia. Allana e Mariah, de 2 anos, que passaram por quatro procedimentos, tiveram evolução do quadro, surpreendendo a equipe médica que as acompanha desde o nascimento.
        A família, que é de Piquerobi (SP), se mudou para Ribeirão por conta do tratamento das gêmeas, são acompanhadas por equipes médicas do HC desde 2021, quando nasceram. Com a boa recuperação das meninas, eles voltam para a cidade natal no fim de semana.
         “Estamos muito felizes de ver essa evolução tão grande que elas vêm tendo. Elas estão bem e a gente também. Está chegando na reta de ir pra casa, estamos voltando pra casa depois de bastante tempo e voltando com elas bem, cada uma em um colo, cada uma em um braço. Esta equipe [médica] nos acolheu tão bem, nos abraçou. Não foram somente médicos para nós, nos presentearam com essas duas pequenininhas separadas”, relata Talita.
        O caso raro, que ocorre uma vez a cada 2,5 milhões de nascimentos, envolveu uma equipe médica do HC de Ribeirão Preto desde o nascimento das gêmeas.
         No procedimento inédito, células-tronco das próprias gêmeas foram utilizadas para formar os novos crânios durante a cirurgia de separação. O chefe da cirurgia plástica, Jayme Farina Júnior, explicou o processo. “Felizmente, estamos vendo depois de três meses, uma consolidação óssea muito importante”, frisou.
         O chefe do setor de neurocirurgia pediátrica, Hélio Rubens Machado, elogiou a recuperação surpreendente das meninas e destacou a importância da plasticidade cerebral em idades mais jovens. As gêmeas continuam o processo de reabilitação, visando a autonomia em suas atividades diárias.

 Cirurgia

       A cirurgia que separou as irmãs definitivamente aconteceu em agosto deste ano. “Tivemos a ideia de retirar células delas próprias, da medula óssea, e juntarmos com o material específico para a formação de osso, um biomaterial, e utilizamos aquilo como se fosse o rejunte de um piso e as peças do piso seriam o rejunte de osso, que foi retirado daquele anel que unia as cabeças. Felizmente, nós estamos vendo depois de três meses, uma consolidação óssea muito importante”, disse o chefe do setor de neurocirurgia pediátrica do HC, Hélio Rubens Machado.
         Ele ainda diz que “elas estão bem e apresentando evolução considerada única. A reabilitação é uma etapa extremamente importante, porque nós trabalhamos no cérebro e o cérebro já estava parcialmente lesado e nós precisamos recuperar”.
         Segundo ele, é justamente pela capacidade de recuperação do cérebro ser maior quando se é mais jovem, que as cirurgias são feitas quando o paciente ainda é criança.
         “Eles têm uma capacidade de recuperação que ninguém, nenhuma outra idade tem. Eles têm uma plasticidade cerebral que permite que a gente recupere, reabilite, mas isso tem de ser feito de uma forma muito intensiva e é esta fase que elas estão agora”, destacou.
         As meninas seguem em reabilitação e ainda precisam fortalecer a musculatura e aprender a se mover com independência. “Fisio, fono, terapia ocupacional, enfermagem, psicóloga, todo mundo está trabalhando para que a gente consiga visar um prognóstico melhor para elas, de autonomia”, diz Carla Caldas, neuropediatra e fisiatra.

(Fonte: Dhoje Interior/Luiz Felipe Possani)