Um recado aos que almejam o bem alheio

Eng. João Ulysses Laudissi – 18/01/2025

 

       Já me aproximo da 7ª década de vida. Nesse distanciamento do momento em que minha mãe me pariu, vi e vivi tantas coisas. Acertei muito, errei muito, vacilei em várias decisões que tive que tomar, mas nessa caminhada pelo mundo com meus passos próprios, sem desmerecer a ajuda de muitos, tive que me deparar com pessoas que não caminhavam com passos próprios, mas com olhos fixos nas posses dos outros e, inclusive, nas minhas. Aprendi que essas pessoas os seus horizontes não são suficientes; precisam dos pertences alheios, do brilho das conquistas que não lhes pertencem, do calor do sol que não se limita à sua pele.

        Essas pessoas nunca entenderam e continuam a não entender por que o jardim do outro tem plantas e flores bonitas. Penso que consideram, ou talvez pensem, que esse belo jardim é desperdício e quem sabe pensem que podem cuidar melhor. Elas, que nunca plantaram uma semente em seu próprio jardim, ou se plantaram cultivaram ou cultivam sem dedicação as plantas e flores do seu jardim, carregam a certeza de que o mundo lhe deve o melhor do patrimônio alheio, como se tudo possa ser encerrado por decreto.

        Bem, entendo que carregamos algum tipo de herança: de memórias, de sonhos, de bens materiais etc, mas o que faz alguém acreditar que o que é do outro deveria ser seu? Talvez seja a falta de um espelho que mostre a imagem que habita dentro de si e que, ao ser cultivada, pode se tornar grandiosa. No entanto, o que se vê nos dias atuais é que muitas dessas pessoas escolhem mirar para fora ignorando o potencial inexplorado do seu próprio ser.

        O problema que vejo, portanto, não está em admirar o que é do outro. Está no desejo de possuir o que é do outro, como se a felicidade só pudesse ser conquistada ao transformar tudo o que existe em domínio próprio.

        Mas a felicidade não é posse. É construção. Harmonia nenhuma floresce com coisas tomadas; as raízes só se expandem onde há lealdade nas conquistas conseguidas de forma honesta.

        Então, antes de almejar o que pertence ao outro, olhe ao redor: O que você tem? O que você pode construir? Talvez o que você tanto busca já exista e esteja esperando por suas mãos para ganhar forma.

        Enfim, isso é que o eleitor desse país precisa questionar para entender o porquê querem os gestores da coisa pública, cada vez mais, que as conquistas alheias sejam deles?